quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

PREFÁCIO AOS DEZ MANDAMENTOS

A SUPREMACIA DA LEI DE DEUS:
 A IMPORTÂNCIA DO PREFÁCIO DOS DEZ MANDAMENTOS
PARA A IGREJA DE CRISTO.
Rev. João Ricardo Ferreira de França.*
Texto Bíblico:Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão”.(Êxodo 20.1-2).
Introdução:
A Lei de Deus tem sido totalmente rejeitada em nossa sociedade atual, e o triste disso tudo é o fato de que tem sido rejeitada pela igreja atual também. A Influência dispensacionalista em nossos dias é muito grande. Muitos presbiterianos dizem que não são dispensacionalistas, mas todas as vezes que negligenciamos os mandamentos de Deus, por menor que nos pareça, ou mesmo, diminuímos o valor de qualquer destes mandamentos da Lei de Deus, já nos tornamos dispensacionalistas práticos. 
 Uma forma notória       de dispensacionalismo  é contemplada quando  lemos comentários bíblicos sobre os Dez Mandamentos e não encontramos uma abordagem detalhada do prefácio ao Decálogo.
É aqui no prefácio à Lei de Deus que temos uma profunda visão da divindade que servimos; é precisamente aqui onde aprendemos mais sobre Deus do que imaginamos, pois, neste texto as verdades a respeito de Deus são colocadas de forma singular diante de nossos olhos, e assim, somos tomados por um senso de grande gratidão para com o Deus que a Bíblia de fato revela. A gratidão exercida em nossos corações não é por aquilo que Deus nos pode oferecer, mas pelo quê Ele é. Algumas verdades podem ser extraídas deste texto exegeticamente, e recebemos algumas informações fundamentais ao nosso cristianismo:


I – O TEXTO NOS INFORMA SOBRE A ORIGEM DA LEI.
Alguns intérpretes da Bíblia possuem o entendimento que a Lei deve ser considerada como tendo a sua origem em Moisés. É verdade que a Lei pode ser considerada assim, mas não significa que é fruto dele, mas que ele registrou a vontade de Deus, e apenas neste sentido a lei pode ser atribuída a Moisés.
Por que falamos isso? É porque os que dizem ser a lei fruto de Moisés tendem a rejeitá-la por sustentarem um conceito dispensacional das Escrituras; o texto que temos diante de nos indica a origem da Lei: “ então, falou Deus...” no texto hebraico nós temos: Vaydaber Elohim. E a idéia transmitida é a seguinte: “E verbalizou, proferiu, ditou como regra Deus....” O substantivo  - Elohim – indica que a Lei tem um autor que é o próprio DEUS.
Então, as dez Palavras do Sinai não são frutos da criação legal de Moisés. Isso implica em algo fundamental ao cristianismo que tem sido a noção de que a Lei não é de origem humana, mas divina. Não é da terra, mas é celestial. O texto pressupõe o fato de que a Lei é revelacional, pois ela nasce em Deus.
Sendo uma revelação não é algo opcional. O homem não tem o direito de dizer qual mandamento deve guardar ou não.  Devemos nos lembrar que para o cristianismo tradicional a revelação infalível é a essência do Teísmo. E o negar a revelação é o mesmo que negar a existência de Deus.
II – O TEXTO NOS INFORMA SOBRE A SUFICIÊNCIA DA REVELAÇÃO:
O segundo aspecto que devemos levar em consideração é que este prefácio do Decálogo nos informa a suficiência da revelação de Deus ao homem.
O texto nos diz que Deus não falou algumas palavras, mas o texto nos informa que ele falou “todas estas palavras”. No texto temos a expressão “Eth kol haddevarim”.
No texto hebraico a palavra “kol” aponta par a idéia de completude, este termo está no construto que indica uma relação de posse; em outras  palavras, todas  as  palavras pertencem a Deus, e são suficientes. O termo “haddevarim” – regras, palavras – são suficientes para o homem viver no mundo, são suficientes para oferecer uma direção ao povo do pacto, eles não precisam ir em busca de novas revelações, de novas regras para viverem a vida, eles não precisam de novas revelações para saberem qual é a vontade de Deus para as suas relações com o divino e com o seu semelhante, pois, a Lei sumariza e revela tudo isso de forma clara.
O “êth” (vocábulo hebraico sem tradução) é colocado no inicio da sentença para indicar a diretividade, pois, ele serve para indicar o objeto direto da sentença. Os homens precisam apenas encontrar-se com Deus na Lei para conhecerem a vontade dEle para as suas vidas. A única regra de vida está sendo apresentada ao povo da aliança – O Decálogo.
Isto implica no fato de que não devemos aumentar nenhum “til” ou “iod” à Lei, pois ela é suficiente e pela mesma razão não podemos diminuir nada da Lei. Ela é suficiente para cada um de nós.
A Lei não pode ser substituída pela subjetividade profética vazia do conteúdo da Lei de Deus; um profeta que profetizasse algo que se cumprisse, mas que introduzia erros no povo da aliança, não levando em consideração o Decálogo, tal profeta deveria ser morto diante do povo da aliança este é o teste de Deuteronômio 18, a pedra de Toque é Lei de Deus.
Mas porque isso? Porque Deus falou tudo o que era suficiente para o seu povo e expressou isso em sua Lei. E o que nós aprendemos no prefácio desta Lei?
III – PODEMOS APRENDER A RESPEITO DA PESSOALIDADE DE DEUS.
O teísmo apresenta um Deus pessoal. Assim também o faz o Cristianismo. No prefácio aos dez mandamentos nós aprendemos sobre a pessoalidade de Deus nas palavras “Eu sou”, no texto hebraico nós temos um pronome independente na primeira pessoa do singular Anoki, este pronome é sempre usado para descrever a existência pessoal de alguém, é usado aqui para enfatizar a pessoalidade o soberano da terra.
Indica que Deus não é uma força ativa, uma energia elétrica, ou coisa do tipo, mas a designação pessoal diz que ele mantém um relacionamento com o seu povo. Devemos nos lembrar que os pronomes independentes “servem como substitutos para uma um substantivo antecedente ou implícito”. Deus está sendo o centro do texto logo ele deve ser visto como pessoa.   Deus não é uma grande energia. Aqui o panteísmo é rejeitado e o teísmo bíblico é confirmado. Deus é pessoa no sentido mais pleno da palavra.
Outra verdade que podemos aprender aqui é o fato de que não é apenas o teísmo que tem sido confirmado aqui, mas o próprio monoteísmo que é o fundamento da verdadeira religião[1].  Se existe um Deus Ele deve ser pessoal, pois, os homens inevitavelmente irão buscar refúgio nEle. Os homens orarão a Ele na mais solene convicção que hão de ser ouvidos em suas preces, e isto, só pode ser possível se Deus for uma pessoa.
IV – PODEMOS APRENDER QUE O NOME DESSA  PESSOA  REVELA  UMA RELAÇÃO PACTUAL COM O SEU POVO.
O texto que temos diante de nós informa que o Deus que é pessoal é chamado de SENHOR no texto hebraico temos “yahweh”. Esse nome revela não só o próprio nome de Deus, mas aponta para o nome pactual no qual Deus tem se revelado através da história da redenção. Deus não é isolacionista – ele chama o homem a ter uma relação pactual consigo mesmo.
Mas algo precisa ser dito sobre esse nome Yahweh não significa somente uma relação pactual, mas indica também a existência eternidade desse Deus e aponta para a realidade de que Deus sempre existiu.
O nome “yahweh” é derivado a raiz hyh no hebraico que pode significar uma existência intemporal conforme Êxodo 3.13-14. O texto claramente indica que Deus é eterno, mas indica que ele é suficiente como Deus que é. A expressão “Eu sou o SENHOR” aponta para o fato de que o SENHOR E O QUE ENTRA EM ALIANÇA COM O POVO.
V – APRENDEMOS QUE ESSA PESSOA É O OBJETO DE CULO
O nosso texto nos informa que antes de considerarmos a lei precisamos entender que a pessoa que nos ordena estas dez palavras é digna de nosso culto e adoração. O texto diz: “Eu sou o SENHOR teu Deus...”
Chamo a atenção para a expressão “Teu Deus” no hebraico temos  “elohika”,o termo é uma junção de um substantivo “Elohim” mais um sufixo “ka” que tem a função de indicar a posse, mas pode também apontar para a questão da autoridade. Aqui o termo pode ser entendido como colocando Deus como o objeto de todas as nossas afeições, ou seja, todo o sentimento religioso deve ser movido para ele somente – ele é o teu Deus.
Deus é ensinado nos dez mandamentos como sendo o único digno de louvor e da adoração – aqui se anula os ídolos e toda forma de objeto de culto que não seja Deus somente. Aqui Deus é contemplado como sendo suficiente como objeto de culto e o centro de nossas afeições. O texto nos diz que devemos ter confiança nEle somente, e sermos submissos a Ele somente. Não devemos olhar para outro objeto de culto, e por isso, devemos nos submeter à sua lei.
VI – APRENDEMOS QUE DEUS TEM SE REVELADO COMO DEUS SALVADOR E REDENTOR DO POVO SEU.
O prefácio dos dez mandamentos nos mostra que o Deus que declara a Lei é “Redentor”, penso que falar de Deus como sendo um resgatador é apropriado. Note como Moisés coloca-nos isso “teu Deus, que te tirei da terra do Egito da casa da servidão”.
A expressão hebraica “asher hotser’thika” que significa “te tirei” no original tem o sentido de “te fazer sair”, também pode ser entendido como “colocar a mão para tirar”, Deus manifesta a sua redenção ao libertar o povo do estado de escravidão. Aqui somos informados que o autor das dez palavras não é um tirano que impõe a Lei sobre um povo desconhecido, mas mostrar que é um Deus amoroso, libertador de um povo indigno que não merecia a revelação deste Deus que nos revela as Escrituras Sagradas.
Mas aqui não é somente um resgatador que se nos apresenta aos olhos, mas que Ele se envolve na história dos homens. Ele é o Senhor da história. A história é a manifestação dos atos redentivos de Deus. E o fato histórico narrado neste texto é a libertação do povo hebreu do cativeiro egípcio.
Isto indica que Deus se envolve na criação, age na história para salvar o seu povo. Os dez mandamentos são um resumo da verdade suprema de que Deus está no controle de tudo; da história do povo da aliança como da vida religiosa e moral deste mesmo povo. Deus governa as nossas vidas, o nosso culto até nosso comportamento na sociedade. Aqui se desprende as seguintes verdades:
•        A soberania de Deus na salvação: Deus como salvador manifesta o seu braço redentor ao tirar o povo da casa da servidão. Aqui o prefácio nos diz que Deus dá a Lei ao povo regenerado, ou seja, foram resgatados para receberem a Lei de Deus como norma de vida.  Isto indica que os dez mandamentos são dirigidos especificamente à Igreja.[2]
•        Que Deus é Senhor da História: O deísmo é condenado aqui porque o prefácio nos diz que Deus age no mundo para libertar o seu povo que estava oprimido.
•        Que Deus é suficiente em si mesmo: O prefácio dos dez mandamentos nos ensina que Deus é suficiente, pois, é o único que pode dar sentido à nossa existência (Atos 17.24,28).
•        Que Deus é o único que pode ser adorado: Deus como se revela a nós pecadores deve ser visto como nosso único objeto de culto. E precisamos desejar adorá-lo como prescreveu em sua Lei. Lc.1.74-75.
Conclusão:
O prefácio aos dez mandamentos nos aponta para que cada sentença que é mencionada em cada mandamento está centrada em Deus e não no homem.  Cada mandamento deve ser obedecido e guardado porque Deus tem o direito de criação e redenção.
De criação porque como Deus único e soberano que é, trouxe esse mundo à existência, por isso, cada pessoa individualmente, deveria submeter-se à sua lei eterna; de redenção porque sempre se revelou redentor do seu povo.



* O autor é formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Norte (SPN) em Recife (PE), é professor e coordenador do departamento de Teologia Exegética do Antigo e Novo Testamento no Seminário Presbiteriano Fundamentalista do Brasil (Recife) e atualmente Pastoreia a Igreja Presbiteriana do Brasil em São Raimundo Nonato – PI.
[1] Sabemos que falsas religiões são monoteísta, todavia, aqui está em pauta a questão de que o Deus que a Bíblia revela, se manifestou proposicionalmente nas Escrituras do Antigo e Novo Testamento e na Pessoa de Seu Filho Jesus Cristo – este é o fundamento da religião verdadeira que é o Cristianismo!.
[2] Não devemos esquecer que é dever de todo homem obedecer  à Lei de Deus (Eclesiastes 12.13), pois, o homem foi criado para isto.

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